Para ter o meu primeiro filho tive que fazer uma
"Fertilização In-Vitro", através do qual deixei um embrião congelado
durante 3 anos. É deste embrião que nasce o Artur, através de um TEC
-Transferência Embrião Congelado. Correu tudo bem, mesmo depois do médico me dizer
que tinha de ficar de repouso 48h. Impossível!! Tinha um casamento no dia
seguinte em que o meu marido seria padrinho. Mas, mas como se tem revelado, o
Artur veio para vencer!!!
Uma gravidez santa, tudo a correr bem, um mano a chegar. No dia da morfológica, o médico que me acompanhava nas ecografias e que me dizia que estava tudo bem, faltou. Fui então vista por outra médica, de quem só posso dizer bem, que detectou o problema cardíaco no bébe e nos esclareceu de toda a situação. A doutora fez questão que fizesse a amniocentese naquele momento e assim foi. Eu e o meu marido nem sabíamos o que dizer, nem pensar, era tudo uma novidade para nós, e eu só pensava no que seria da nossa vida daí para a frente.
De volta a casa em silêncio, num desconhecido mundo no qual tinha acabado
de entrar…uma gravidez que não sabia se havia de continuar ou parar por ali. O
sentimento é de pavor. E como se não bastasse, nesse dia assaltam-nos a casa.
Como deixam de ser importantes certas coisas. O assalto da casa foi um mal
menor no meio desta horrível notícia. Eu só queria fechar os olhos e acordar
deste pesadelo.
Os dias passam, começo a ser seguida na consulta de gravidez de risco,
novos exames, novas ecografias. Fazemos um estudo hereditário para descobrir a
possível origem do problema, mas afastando a hipótese de ser devido o embrião
congelado, isso seria admitir a culpa. Não julgo ninguém, quando decidi
arriscar, sabia que estava a correr riscos. Mas a vontade de ser mãe outra vez
era maior e ter este bébe era a minha última oportunidade.
15 dias antes do Artur nascer, o Director da Pediatria onde estava a ser
acompanhada veio falar connosco para nos dizer que o acordo que tinham com o
Hospital da Cruz Vermelha, no qual estávamos inicialmente a ser seguidos, tinha
terminado e que quando o Artur nascesse logo se via. Foi como se tivesse caído
uma bomba sobre nós. Mas a persistência e a vontade de não desistir foi maior.
Eu e o pai não saímos daquela reunião sem uma solução para o nosso filho que
parecia estar a ser tratado como um boneco. Felizmente, passamos a ser
acompanhados em Santa Cruz pela equipa do doutor Rui.
O dia chegou e o Artur nasceu grande e forte, era
o bebé maior que havia nos cuidados intensivos, era o "boneco"
delas.... Correu tudo bem, graças a Deus não foi preciso fazer a primeira
intervenção à nascença e após 5 dias viemos para casa. Até aos 9 meses tudo
correu muito bem. Foi então que, na véspera da Páscoa, nos ligam para marcar a
cirurgia do Artur para a semana seguinte. Nem nos deu tempo para pensar.
Fez a operação Glenn dupla que felizmente correu
bem, tendo vindo para casa ao final de 10 dias. Dias depois regressamos ao
hospital porém, com uma atelectasia pulmonar. O diafragma deixou de funcionar
correctamente e ao mesmo tempo adquire uma infecção bacteriana na sutura. Foi
uma recuperação complicada e lenta, mas no fim tudo correu bem. Voltamos para
casa.
Meses mais tarde, volta a complicar-se a situação. Mas as mães têm certos instintos que não se explicam. Reparei que o Artur não andava bem, sempre com um ar triste, não brincava, parecia que tinha dores …o rosto dele muito deformado pela manhã. Um dia esse inchaço não desapareceu. Teimosamente insisti que o menino fosse visto. O meu instinto dizia-me que algo não estava bem. E de facto não estava. Somos finalmente vistos pelo Dr. Rui que prescreve novos exames e análises. Os níveis de hemoglobina estavam muitos baixos e teve que levar uma transfusão de sangue. A meio da transfusão, todo ele e principalmente a parte da cabeça ficou muito inchada, tiveram de administrar de imediato furosemida intravenosa (IV). Infelizmente os resultados apontam para uma nova cirurgia. O fluxo que vinha da artéria pulmonar não permitia a entrada do sangue que vinha das veias, então acumulava e subia, provocando mal estar, dores de cabeça. A intervenção consistiu na colocação de um banding para apertar a artéria para poder reduzir o fluxo e o outro poder entrar. Apesar de tudo ter corrido bem, a sua recuperação foi lenta com 1 mês de internamento.
Voltamos
para casa, para a escolinha e na tentativa de voltar a uma vida normal eis que
apanha uma bronquiolite. Novo internamento, recupera bem e voltamos a casa. Uma
semana depois o estado piora de forma significativa. Ligamos para os médicos
que nos falam de um novo internamento para acerto da medicação. Já no hospital,
numa eco repararam que o banding cedeu.
Fazem 2 cateterismo e concluem que o banding que lhe tinha sido colocado
desapareceu. Fiquei literalmente em estado de choque. Não me sentia preparada
para mais uma operação em tão pouco tempo, era como se os resquícios de forças
que ainda tinha, me tivessem abandonado….
No meio
deste sofrimento deparo com uma surpresa na minha vida, uma feliz coincidência
do destino. Não consigo classificar o que sinto, o que pensar, apenas peço que
esteja tudo bem, e com Saúde... Sim, fiquei de bebé naturalmente! Não existe
explicação para tal, apenas que aconteceu...
Esta última operação do Artur correu muito bem, conseguiram fazer tudo o que tinham intenção de fazer, a sua recuperação tem sido surpreendente de dia para dia... Já come muito bem, só quer estar em pé, gatinha sentado, tudo o que uma criança começa a fazer aos 9 meses mas que com o Artur está agora a acontecer …com 18 meses.
Todos os dias são uma vitória e o sorriso dele... vale ouro.
Tenho que agradecer a todos os funcionários do
Hospital de Santa Cruz que passaram na vida do Artur. Um Obrigado ao Dr.
Miguel, Dr. Rui Anjos, Dra. Inês e Dr. Nuno por terem sido as pessoas
maravilhosas que foram. Também quero agradecer a todas as mães que me apoiaram,
que passaram na vida do Artur e na minha e dizer o quanto foi importante conhecer-vos e aos vossos filhos.
À minha família… não tenho palavras, apenas…
OBRIGADO, OBRIGADO…